Conjuntura Internacional

Uma nova Otan

Putin, por seu turno, deu um novo sentido à Otan, que busca a janela para se fortalecer

Cezar Roedel
Consultor de Relações Internacionais
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A Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan), antes da guerra na Ucrânia iniciar, era apenas um tipo de arquitetura de defesa ocidental, com a herança das ameaças soviéticas. Putin, por seu turno, deu um novo sentido à Otan, que busca a janela para se fortalecer. A organização foi criada no contexto do final da Segunda Guerra Mundial e a emergência da Guerra Fria, que trouxe a ameaça nuclear. A Otan, em seu tratado constitutivo, estabeleceu no artigo quinto o sistema de defesa coletiva, ou seja, uma ameaça dirigida a qualquer um dos seus membros é uma ameaça a todos os membros da instituição, demandando resposta sistemática. A Otan, até semana passada, possuía 30 membros, cenário que mudou com a recente adesão da Finlândia. Desde que a guerra teve início, a Finlândia, junto com a Suécia, buscou acelerar a sua adesão à organização, em uma situação de balança de poder, por excelência. No caso da Finlândia, há uma fronteira com a Rússia, com cerca de 1,3 mil quilômetros. Logo, são países que estão em uma zona de influência. Com a aventura de Putin, eram esperadas as posições dos países, ou seja, buscar um exército que não possuíam, para se protegerem das ameaças russas. Para entrar na Otan é necessária a aprovação de todos os membros. O último país a aprovar a entrada da Finlândia foi a Turquia. No caso da Suécia, há discordância ainda por parte de Ancara. Com a adesão da Finlândia, a Otan passa a ter uma considerável fronteira com a Rússia, tudo o que Putin não desejava. A Otan foi uma das justificativas de Putin para invadir a Ucrânia, mesmo sem a adesão do país, que certamente não ocorreria com os conflitos prévios em Donbass. Ao tentar impor algum tipo de limite à Otan, a estratégia de Moscou falhou, dando ânimo e, principalmente, sentido renovado à organização, que agora intensifica os seus exercícios militares. A futura posição em termos de armamentos, dentro da Finlândia, é a grande incógnita, da qual Moscou espera ansiosamente.

Reações
O porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, rapidamente afirmou, após a adesão da Finlândia à Otan, que o movimento é uma afronta à segurança e aos interesses nacionais russos. Em um comunicado, Peskov disse: "Estaremos atentos ao que acontecerá na Finlândia, como a Otan explorará o território da Finlândia em termos de colocação de armas e sistemas de infraestruturas que estarão perto das nossas fronteiras e potencialmente nos ameaçarão. Medidas serão tomadas com base nisto". O secretário de Estado norte-americano, Antony Blinken, afirmou que, "ao atacar seu vizinho, o líder russo havia desencadeado exatamente o que ele havia procurado evitar", ou seja, a expansão da Otan.

Próximos movimentos
Dos lentos movimentos de uma guerra de atrito, ainda é incerto a exata forma que tomará a reação russa, todavia a adesão finlandesa certamente é um ingrediente importante na escalada de tensões. Os movimentos de Putin no tabuleiro devem ser bem pensados, a fim de se evitar um conflito armado com a Otan, estando as suas forças armadas deprimidas pelas perdas maciças na Ucrânia. A sua principal parceira, a China, não quer um conflito contra a Otan para não atrapalhar os seus planos de expansão. Putin, cada vez mais, fica encurralado, consequência de suas próprias decisões.

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